“Ganho o ordenado mínimo e tenho 30 anos de casa”

4 Maio 2022

Trabalhadores, reformados e jovens participaram hoje nas celebrações do 1.º de Maio, em Lisboa, organizadas pela CGTP para reivindicarem mais direitos e melhores salários, numa altura em que o custo de vida aumenta.

Dalila Santos, 58 anos, operadora especializada de hipermercado, foi de Cascais, onde mora, a Lisboa, para participar no desfile que partiu do Martim Moniz cerca das 15.15 rumo à Alameda, para manifestar o seu desagrado “em relação a tudo, desde aos impostos, mas principalmente em relação aos ordenados”.

“Ganho o ordenado mínimo e tenho 30 anos de casa”, começou por contar a trabalhadora.

“Estamos no primeiro dia [do mês] e quase já não tenho dinheiro, é uma vergonha”, acrescentou Dalila.

Já o estudante de 18 anos Salomão Parreira, de Odivelas, marcou presença no desfile por considerar que “esta é uma altura muito importante para defender os direitos dos trabalhadores” devido ao aumento do custo de vida que afeta também os mais jovens.

O mercado de trabalho para os jovens “está cada vez mais difícil, é cada vez mais complicado arranjar não só emprego, mas também algum emprego que permita condições de vida minimamente decentes para os jovens”, disse Salomão.

De boina devidamente enfeitada para a ocasião, José Pulido, reformado de 70 anos, do Forte da Casa, concelho de Vila Franca de Xira, quis dar o exemplo às novas gerações ao participar no desfile da CGTP.

“Hoje é o Dia do Trabalhador e antes do 25 de Abril de 1974 não tínhamos este dia”, sublinhou.

“Vejo muito mal o mundo do trabalho, os trabalhadores sem direitos nenhuns, é isso que eu vejo”, acrescentou o reformado.

Milhares de pessoas concentraram-se no Martim Moniz, em Lisboa, cerca das 14:30 e partiram rumo à Alameda cerca das 15:15, no âmbito das celebrações do 1.º de Maio da CGTP.

O desfile partiu ao ritmo de bombos e de palavras de ordem, cerca das 15:15, pela avenida Almirante Reis, com a organização a dar a partida aos microfones: “Abril continua, Maio está na rua!”; “vamos levantar bem alto aquilo que são as reivindicações dos trabalhadores”.

Os trabalhadores puderam este ano celebrar o Dia do Trabalhador sem restrições associadas à pandemia de covid-19, ao contrário do que aconteceu nos últimos dois anos, mas muitos optaram por usar máscara.

Entre as palavras de ordem ouviu-se “para o país progredir, é preciso investir” e “para o país avançar salários aumentar”.

“Paz sim, guerra não”, entoaram os manifestantes que também pediram “combate ao aumento do custo de vida e à especulação”.

Alguns dos manifestantes usaram cravos vermelhos, numa alusão ao 25 de Abril de 1974.

Os trabalhadores portugueses puderam hoje comemorar o 1.º de Maio sem restrições, participando nas iniciativas de rua que a CGTP promove em mais de 30 localidades do país, ou no debate da UGT sobre os desafios do mundo laboral, em Lisboa.

Nos últimos dois anos, devido às restrições relativas à pandemia da covid-19, a Intersindical não desistiu de assinalar a data na Alameda, embora apenas com cerca de um milhar de manifestantes, devidamente distanciados.

Este ano a CGTP voltou a fazer o tradicional desfile na capital, a partir da praça do Martim Moniz até à Alameda, onde ocorreu o comício sindical, assim como a manifestação do Porto, na avenida dos Aliados.

O 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, teve origem nos acontecimentos de Chicago de há 136 anos, quando se realizou uma jornada de luta pela redução do horário de trabalho para as oito horas, que foi reprimida com violência pelas autoridades dos Estados Unidos da América, que mataram dezenas de trabalhadores e condenaram à forca quatro dirigentes sindicais.

Fonte: JN